O crescimento exponencial do mercado de óleos essenciais (OE), em especial nos últimos dois anos, popularizou o acesso a estes poderosos compostos extraídos de plantas. Disponibilizados por empresas especializadas em aromaterapia (principalmente por venda on-line) e até por lojas de departamento, estes produtos dispensam a necessidade de receita para a compra, mas nem por isso não demandam uma série de cuidados na hora do uso. Conversamos com Yan Oberlaender, biólogo, aromaterapeuta certificado pela AIA (Alliance of International Aromatherapists) e co-fundador do Conaroma — congresso on-line de Aromaterapia, para esclarecer algumas das principais dúvidas relacionadas ao uso dos óleos essenciais.
Com mais de 10 anos de estudos sobre as plantas aromáticas, Yan teve contato com este universo dentro de casa, através do pai, o médico especialista em psiquiatria, fitoterapia, nutrologia e medicina ortomolecular Guilherme Oberlander. Ele é considerado um dos pioneiros na introdução da Aromaterapia no Brasil, incorporando-a a suas práticas de Medicina Integrativa ainda na década de 1990.
“Ele foi a um congresso de medicina integrativa na Alemanha e voltou para casa cheio de vidrinhos. Me mostrou os “cheirinhos” e confesso que num primeiro momento não botei muita fé. Um cheiro com efeito terapêutico, como assim?”, recorda-se Yan.
Apesar do ceticismo, a curiosidade falou mais alto quando, ao enfrentar uma forte dor de cabeça, resolveu experimentar o óleo essencial de hortelã pimenta. Para sua surpresa, a dor de cabeça melhorou consideravelmente depois da inalação. “Essa experiência despertou em mim a vontade de ver que negócio era aquele”, detalha Yan. De forma autodidata, ele começou a estudar os livros que tinha em casa. Compreendeu o que são, de que forma agem no organismo, porque têm efeitos terapêuticos… até que se descobriu apaixonado pelos óleos. Nesta época, ele já era estudante universitário de Biologia e enxergou na Aromaterapia uma forma de unir natureza, ciência, saúde e espiritualidade. Depois de trabalhar numa pequena empresa de aromaterapia da família, em 2015, junto do sócio Kayan França criou o Conaroma. Na edição deste ano, que ocorre de 1 a 10 de julho, estarão reunidos mais de 80 especialistas das mais variadas áreas e a expectativa de público era de mais de 20 mil pessoas.
O QUE SÃO ÓLEOS ESSENCIAIS
Yan explica que o óleo essencial é um líquido volátil, extremamente concentrado de moléculas aromáticas da planta da qual foi obtido. O processo de extração do óleo ocorre por destilação, então, junta-se uma quantidade da planta e se faz a destilação, cujo resultado final são essas moléculas aromáticas que compõem o óleo essencial. Por serem moléculas de estrutura química, elas têm efeitos terapêuticos e carregam princípios ativos. Esses princípios ativos provocam efeitos em nosso organismo e esses efeitos podem ser percebidos em nível físico, a partir de óleos com propriedades anti-inflamatórias, antifúngicas, antisépticas e regenerativas da pele.
Outros óleos, além do efeito em nível físico, também vão desempenhar efeito em nosso emocional. Isso porque, explica Yan, ao inalarmos/inspirarmos um aroma, ele entra em contato com nosso bulbo olfativo, membrana que tem dentro do nosso nariz e que é uma terminação nervosa do sistema nervoso central, ligada diretamente ao sistema límbico, uma espécie de “central de controle” dentro do nosso cérebro, onde se equilibram e se governam a parte emocional e a memória (por isso muitas vezes sentimos um cheiro e o relacionamos com alguma pessoa). Óleos essenciais com efeitos calmantes, como a lavanda, por sua composição química vai desempenhar um efeito sedativo e é indicada para ansiedade, insônia e hiperatividade.
Por outro lado, há óleos mais estimulantes, como o alecrim, que aumenta o fluxo sanguíneo no sistema circulatório. Ou seja, cada óleo, de acordo com sua composição química, vai ter efeitos terapêuticos e aroma específicos.
MANEIRAS DE USAR OS ÓLEOS ESSENCIAIS
Os óleos essenciais podem ser utilizados, de maneira segura, através da inalação direta (no vidrinho), por uso diluído em difusor de ambiente e diluídos em óleos vegetais e bases neutras para o contato com a pele. “O óleo deve ser tratado como medicamento, pois ele tem princípio ativo como um remédio”, enfatiza Yan.
ALERTA SOBRE A INGESTÃO
O “boom” vivido pela Aromaterapia provocou uma propagação do uso dos óleos essenciais das mais diversas formas, inclusive por via oral. Yan explica que em alguns países, como a França, é comum a ingestão, mas essa prática é receitada por médicos. Já na Inglaterra, só se usa diluídos e em massagens. “Então, cada escola tem suas linhas”, complementa. O Brasil tem uma tradição muito recente neste segmento, em torno de 30 anos, e recebeu influências de várias escolas. Yan alerta para o risco de pessoas sem formação adequada, preparo, estudo, noções de bioquímica e fisiologia estarem indicando o uso dos óleos essenciais por via oral sem ter consciência de que, na grande maioria das vezes, é desnecessário. “Garanto a você que em 95% das indicações já teremos o efeito necessário a partir da inalação. Falamos muito sobre responsabilidade no uso dos óleos”, defende o especialista. Yan exemplifica que, na França, o uso via oral ocorre a partir de cápsulas e supositórios, mediante prescrição médica. “Dessa maneira, ele estará mais biodisponível para nosso organismo. O caminho que o óleo vai percorrer se eu ingerir gotas é muito longo e complicado, passa pelo sistema digestivo. Agora, se eu diluo e aplico na minha pele, em poucos minutos ele vai estar na minha corrente sanguínea. Então, nem é muito inteligente esse uso interno, é algo propagado sem muita responsabilidade”, esclarece o biólogo.
POR ONDE COMEÇAR O USO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS
Se você tem vontade de trazer os benefícios dos óleos essenciais para o seu dia a dia, o primeiro passo é buscar informação de qualidade e responsável. Você também pode procurar um aromaterapeuta com formação (no site aromaterapia.org.br você encontra profissionais certificados pela CertAroma) para lhe indicar os óleos que irão atender melhor a suas demandas. A partir daí, comece a montar seu kit básico. Entre os OE mais versáteis e seguros estão a lavanda; o óleo de copaíba (produzido no Brasil), ótimo cicatrizante e anti-inflamatório; o óleo de eucalipto para cuidados com o sistema respiratório; os cítricos, como a laranja doce, que melhora nosso humor e disposição. “Com um kit a gente pode criar produtos diversos”, sugere Yan.
CUIDADO COM A PROCEDÊNCIA DOS ÓLEOS
Yan orienta que, para comprar um óleo essencial puro e seguro, é preciso buscar empresas especializadas em aromaterapia, ou seja, que a tenham como atividade principal. “Cuidado com o preço, OE não é barato. Também atente para o histórico da empresa na aromaterapia”, indica Yan. Há certificações que atestam a qualidade dos ingredientes utilizados, como a de orgânicos. “Eu, particularmente, prefiro matérias-primas selvagens, quando a planta nasceu espontaneamente na natureza, e isso vai refletir na qualidade terapêutica e vibracional dela”, acrescenta o especialista.
BELEZA LIMPA E O USO DOS ÓLEOS
Assim como o segmento de óleos essenciais está em plena expansão, a beleza limpa também vem sendo compreendida e cada vez mais escolhida pelo consumidor. “Vejo o crescimento da beleza natural e do uso de óleos essenciais como o despertar da consciência das pessoas, de que algo natural pode trazer mais benefícios à saúde e menos impacto ambiental”, analisa Yan.
Yan vê o uso dos OE em fórmulas de produtos de beleza limpa pela necessidade de agregar um aroma natural à experiência de uso. É também uma forma de trazer os princípios ativos de óleos com propriedades clareadoras, cicatrizantes e anti bacterianas, por exemplo, para o skincare.
FUTURO DOS ÓLEOS
Yan acredita que há muito a crescer e evoluir no mercado de óleos essenciais, seja em termos de conhecimento científico, de pesquisas, de novas áreas para agregar os óleos, bem como da descoberta de novos óleos, em especial no Brasil, devido a toda riqueza botânica.
O biólogo acredita que o uso dos OE brasileiros auxilia na valorização de nossas espécies, na manutenção da floresta, no despertar da consciência para essa riqueza guardada dentro das florestas, gerando recursos a partir disso com responsabilidade e cuidado.
Roberta Pschichholz
É jornalista, podcaster, mestre de cerimônias, mãe do Bê, parceira de vida do Edu e empreendedora. Busca promover conversas que incentivem mulheres a descobrir as delícias da prática da sororidade, da beleza natural e de uma vida mais leve.
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