“A qualidade dos nossos relacionamentos determina a qualidade da nossa vida” — Esther Perel.
Somos seres que precisam se relacionar e, mais do que isso, somos seres que buscam sentido.
Juntando essas duas necessidades, temos aí uma demanda intrínseca em buscar relacionamentos com significado.
Estruturalmente, os relacionamentos sofreram uma enorme mudança, pois nunca investimos tanto nesse significado subjetivo do amor.
Ao mesmo tempo, nunca antes nos divorciamos ou trocamos tanto de parceiros como nos dias de hoje.
Não parece ambíguo?
Antes, casávamos por necessidade econômica, política e social.
O casamento era guiado por regras comunitárias e religiosas. Em sua grande maioria, não era um ato de amor.
As regras tiravam de nós não só o direito mas também a necessidade de refletir sobre como as coisas iriam caminhar nesse relacionamento.
Já nos dias de hoje, escolhemos nossos parceiros e parceiras com o olhar guiado pelo romantismo, e escolhemos também como será essa relação.
Como por exemplo, quem irá trabalhar fora ou dentro de casa, se haverá filhos ou não, como criar esses filhos, como funciona a estrutura financeira desse casamento, como se relaciona sexualmente esse casal e por aí vai…
Conquistamos essa liberdade e, ainda assim, muitos relacionamentos desmoronam bem debaixo dos nossos pés.
E por que?
Uma das explicações para isso é que, de uma hora para outra, passamos a chamar a pessoa com quem vamos nos casar de “alma gêmea”, ou “a tampa da panela”.
Buscamos em uma só pessoa tudo aquilo que uma vila inteira nos oferecia no passado: um amante, um melhor amigo, um parceiro de viagem, uma estabilidade, uma segurança, um mistério mas que também seja uma certeza… Tudo isso precisa estar em um só corpo e isso porque nem começamos a falar de estética e valores pessoais.
Quando exposta dessa forma, esta expectativa não soa como algo inverossímil?
É porque ela é.
Relacionamentos precisam ser construídos dia após dia, de forma amorosa mas também de forma coerente com aquilo que é possível emocionalmente.
E uma parte extremamente importante dessa construção é a comunicação.
E nós nos comunicamos muito mal.
O ser humano vem ficando preguiçoso ao se expressar, esperamos que o outro adivinhe nossos desejos mais profundos pelo simples fato de sermos íntimos.
Esperamos que o outro saiba mais sobre nós do que nós mesmos, por isso, ao invés de dizermos “eu quero ASSIM”, dizemos “você não me entende”.
E temos tanto potencial para expressão! Estamos vivendo em desperdício!
Se seu parceiro ou parceira lhe traz um café no meio da tarde, durante o seu home office, você pode dizer “muito obrigada”, ou você pode dizer “deixa eu te dar um beijo? Eu amo quando você cuida de mim.”
Perceba esse universo de diferença entre um cenário e outro.
E por que não fazemos dessa forma?
Pelo costume.
E a condição desse costume, dessa rotina, dessa familiaridade e presença constante nos dá um caráter de função.
Passamos a ser funções dentro desse relacionamento.
“Eu faço isso, você faz aquilo. Tira o lixo, limpa a pia, pega as crianças, vai trabalhar, pagou essa conta? Ajustou o chuveiro? Foi ao mercado? Fez jantar?”
Quando passamos a ser função, o erotismo e o vestígio da paixão na vida conjugal se perde nas cobranças.
Se perde na falta de curiosidade sobre aquela pessoa, pois se eu sei tudo sobre ela, ela já é minha e, por ser minha, eu não tenho como a desejar.
A solução para essa questão mora na forma que nos comunicamos e que nos fazemos entender.
Na intenção que colocamos na troca.
É preciso um esforço consciente para que essa mudança seja diária e constante, pois o relacionamento que perdura de forma saudável é o relacionamento que recebe ATENÇÃO e investimento contínuos.
LUIZA MORAES GONZALEZ
Psicoterapeuta com abordagem cognitivo-comportamental e criadora do podcast Inspiração Boca a Boca com temas sobre o cérebro, comportamento, saúde mental e filosofia.
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